Uma carta para ti, caro blog. #4

09:28:00

Querido blog,
Bom dia. Um bom dia para ti. Para ele. Para eles. Para todos os pronomes pessoais, singulares ou no plural, que não envolvam o meu ser. Acordei com uma certa vontade de te contar os últimos acontecimentos, de partilhar contigo todos os meus desvaneios, de, basicamente, escrever ao meu amigo mais verdadeiro. O sol brilha lá fora e os seus raios vão penetrando a janela do meu quarto ainda meio adormecido. Está um dia relativamente quente, um dia de Primavera-Verão. Mais uma vez, como em tantas outras, é o som do piano que me faz dar asas à imaginação e soltá-la de uma tal forma que, as palavras se prolongam, caminham, se entranham nos meus sentimentos mais profundos e vão passando para o papel, para esta tua carta agora digitalizada. Melodias calmas, que me vão acelerando a pulsação. Ele não está mais aqui, comigo. O porquê? Ele procurou, procurou demais. Procurou alguém que lhe desse o corpo e não a alma, o físico e não o interior, enquanto só eu lhe sabia dar o coração. Estou a embarcar nas palavras, retrocedendo nas minhas memórias e tentando te contar e exprimir aquilo que se tem passado com este ex-nós. Sim, meu blog, ele arranjou alguém. E esse alguém? Esse alguém não sou eu. Por mais que queira, não consigo aceitar ou imaginar sequer aquele que mais amei com outra sem ser eu. Estou-te a escrever à base de sinceridade, portanto não seria correcto dizer que me foi indiferente ou que eu não viajei também à procura de alguém que me possa dar aquilo que ele não me deu. E sabes que mais? A minha busca também foi bem sucedida. Mas, por mais que eu esforce, o meu coração parece estar em desacordo com a minha cabeça. Eu não consigo amar alguém tanto como o amo a ele, por mais que me mentalize de tal coisa. São assuntos de amor, assuntos de uma jovem que, sem que se apercebesse, deixou alguém roubar o seu coração, como nunca ninguém antes tinha conseguido roubar. Levantei a cabeça, não queria que a coroa cai-se.. Mas de que vale ser princesa se não tens alguém que, mais tarde, te possa vir a tornar rainha? De que vale ser princesa se te falta o teu príncipe encantado? Quero alguém que cuide de mim, que se preocupe comigo. Alguém que ame incondicionalmente acima de tudo. Quero alguém que me preencha. Demasiados desejos. Estou a entrar, inevitavelmente, na loucura. Na obsessão. Quando fecho os olhos? É a ele que vejo. Quando vou dormir? É nele que penso. Cada acto do ou no meu dia-a-dia depende dele, prende-se a ele. Cada mudança de humor, cada mudança de tempo, foca-se e prende-se a ele de uma tal maneira que me sinto escrava do meu próprio sentimento. Um mar de rosas vermelhas, que estiveram mergulhadas sobre ilusões durante demasiado tempo e que agora não passam de sangue, vivo e frio. Cada onda que me envolve, cada rajada de vento que sopra, leva comigo a felicidade, assim como o nosso ex-nós levou. Está calor, bafo. E, apesar do bom tempo, queria ter-te a aqui para me aqueceres.. O coração. Aquele orgão essencial, algo parecido com ele, que continua vivo mas tão distante de mim mesma. Que parece não existir mais, pois tudo o que parecia estar bem agora está mal. O meu Mundo caiu, não consigo que ele se volte a erguer. Não oiço um som, além das suaves teclas do piano. Não vejo uma sombra, além das árvores que dançam ao calor do Sol quente. Sinto-me presa ao chão, incapaz de correr atrás de algo que está constantemente a fugir de mim. Não o posso ter de volta, faz-me mal. Plim, plim, plim.. E o som do piano passou de bonito para mudo. 
Um beijo, Inês Agostinho.

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1 comentários.

  1. Está tão, mas tão bonito. E, podes achar mentira, mas quando acabei de ler o ultimo parágrafo, a musica parou de tocar e tudo.

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