Uma carta para ti, caro blog. #5
16:12:00
Querido Blog,
Faz um bom tempo em que não te deixo aqui um pedacinho da minha alma. Talvez seja por ela me ter sido roubada, pelo vento. Vento esse que sopra calmamente, nesta noite quente e seca de Verão. Hoje foi um longo dia, preenchido de casais de namorados que passavam por mim solitária na rua. Sinto saudade, como nunca deixei ou deixarei alguma vez de sentir. De quem partiu, de alguém que não está. Os meus olhos pretos cor de corvo bloqueiam repetidamente nas teclas do computador. Ele vêm-me à memória e todos esses pensamentos tornam-me imóvel. Uma palavra positiva que descreva tudo isto? Crescimento. Os desgostos e erros ajudam-nos a crescer, talvez tenha sido por isso que dei um passo tão grande para a maturidade no que toca a assuntos do coração. Têm sido períodos negros, em que eu aprendi em sofrer em silêncio e a guardar para mim certas dores que ninguém me consegue tirar. Alivia-me, desabafar contigo, contar-te estas minhas histórias de um amor jovem. Amor jovem que partiu e hibernou tão cedo, em que a esperança reluz para que, num dia de Verão qualquer, volte a acordar de um sono pesado e duradouro. Minutos sem ti são anos de dor. Melodramática, não passo de uma melodramática completamente e estreitamente viciada no som das suaves e doces teclas do piano que me acalmam e levam instantaneamente os meus dedos a deslizarem em direcção a ti, Blog, e a escreverem tudo o que me vai na cabeça.
Tic-toc. As horas vão passando. Não te digo muito, mas tenho tanto para dizer. Grito e ninguém me ouve, estou presa numa caixa à parte pronta para ser empacotada e enviada para bem longe deste Mundo em que todos estão felizes e apaixonados. O seu sorriso e o brilho dos seus olhos fazem-me falta no meu dia-a-dia. Era algo que fazia parte de mim e agora nem é meu sequer. É difícil não negar o facto de já não seres meus mas sim das outras todas que apresentam corpos espectaculares. Ou estar sem ti a meu lado nos belos dias de praia em que o som das ondas nos embala enquanto os nossos lábios salgados se cruzam. Os teus sussurros, que me arrepiavam a espinha. Os jardins proibidos que nos atravessávamos de mão dada, na aura da nossa paixão, confiança e força. Quando nada nem ninguém nos poderia destruir, quando a nossa união arrebentaria com qualquer castelo armado da torre mais alta ás masmorras mais fundas. Em que eu era a princesa, tu o meu príncipe e éramos futuros donos de um reino que ambos íamos construindo dia após dia. Queria ser o teu sol nestes dias quentes de Verão, aquecer-te, estar contigo em qualquer lugar do Mundo. E à noite? Eu partia, mas estaria de volta todas as manhãs para nascer de novo e para te fazer acordar com um belo e doce sorriso na cara. Mas tu não queres nada disto. Assim como eu não deveria querer. Só que a verdade é que é o que eu desejo mais, acima de tudo. E se o negar a ti, Blog, estarei a negá-lo a mim mesma. O que não seria saudável. Mas nada disto é saudável, nada do que eu sinto ou tenho sentido é saudável. Tudo isto não passa de um peso que eu quero abater e perder, para me deixar de sentir tão pesada e perturbada. Tinha desejos em criança, muitos até. Desejava ser mamã, ter a meu lado sempre um papá e um dia poder ser avó. E agora, enquanto jovem, desejava ser a mamã do teu filho e a avó do teu neto. Gostava de puder ter guardado um pedaço do que tu sentias por mim numa caixinha de música. Assim, sempre que escrevesse ao som dessa caixinha, ia-me sentir amada e os meus textos não seriam tão melodramáticos. As gotas caem, mas no entanto o céu lá fora está limpo. E cá dentro? O tempo está encoberto, hoje é dia de tempestade.
1 comentários.
Está lindíssimo, como já era de esperar.
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