Uma carta para ti, caro blog. #7

12:31:00


Querido blog,
As gotas caem, lentamente. Espalham-se e insistem em tocar em todas as partes do meu delicado corpo. Lá ao longe vão suando as teclas no piano, e então aí eu sento-me, enrolada numa toalha húmida e ensopada, decido escrever... Escrevo... E vou escrevendo algo assim...
- "Sinto uma enorme necessidade de cumprir todas as promessas que tirei de mim mesma. Sinto a necessidade de escrever até ao auge da minha imaginação. De o ter presente no meu pensamento, mesmo sabendo que outro alguém lhe tentar roubar o lugar no desespero de me ter incondicionalmente. É, a verdade é que "ele" sempre será "ele" e o nosso "nós" há-de me perseguir até o meu coração perceber o que será melhor para mim. Até lá, não o consigo afirmar. Não consigo afirmar que me és indiferente, porque não és. Por vezes sinto que exijo demais de mim. Não será demais esquecermos algo que faz parte de nós? De nos irmos esquecendo pouco a pouco? Fecho os olhos, embalo os meus pensamentos ao som da música. É difícil dançar ao som de uma melodia que nos confunde e altera os passos, os objectivos. Mais difícil é, porém, amar que nos é proibido, será por isso? Pelo facto de o fruto proibido ser sempre o mais apetecido? Eu não sei se tu lês estas cartas, se sabes que te espero impacientemente e sempre esperarei, que sozinha ainda tento preservar cada memória nossa, que vai sendo esquecida, cada vez mais e mais... Mas não por mim, ohhh não! Seria impossível esquecer algo que o meu consciente me insiste em lembrar todos os dias. Escreverei 25 cartas. E, a única coisa que importa, é que estas 25 cartas são o necessário para que, tu no final, caias no esquecimento. Se eu pudesse, de cada vez que me isolo na praia, levaria uma garrafa de vidro. Lá dentro, meteria um papel com a inicial do teu nome. Iria fazê-lo durante 5 dias, até que o teu nome tivesse finalmente sido levado pelo mar ou perdido nas ondas. Os outro 20 dias serviriam simplesmente para ouvir o mar, para tentar percebe-lo. Ou para ler. Ninguém é melhor conselheiro do que o mar. Ele ouve-nos. Não julga. É algo como tu, Blog. A única diferença é que ele me sussurra o que sente. Deve ser por isso que sempre que vou à praia o vejo a embalar-se em ondas brutas. Ele não gosta de me ver assim. Ninguém gosta."
As lágrimas escorrem-me pela face rosada... Pingas e pingas de choro vão cobrindo o papel... E então aí eu escrevo, um pouco mais... E mais...
- "Por vezes, nestes dias melancólicos e deprimentes como os de hoje, eu apercebo-me do significado da saudade. Eu passo a perceber que, até o sentirmos, parece impossível. Parece impossível amar alguém mais do que a nós mesmos. Colocar essa pessoa acima de qualquer outro ser, mesmo que esse "outro ser" nos inclua a nós. Mesmo que tu sejas a ovelha e ele o leão, tu irás inevitavelmente colocar-te à mercê de quem te quer mal. Porque te atrai, o seu jeito maléfico e perverso de ser."
E foi então, nesse pequeno momento de história, que me comprimi... Fechei os olhos por segundos, e a folha de papel rasgou-se em mil pedaços... Hoje, numa caixinha, encontrei mil pedacinhos de papel. Juntei-os. Juntei-os e fui dar com mais mil pedaços de mim. Dele. De nós. 

                                                                                                         Um beijo, Inês Agostinho.

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